Diário

Queremos que o Portugal Gastronómico saia vaidoso de tudo isto. Que melhore a sua produção, que seja reconhecido, que venda pelo preço justo, que permaneça como garantia de qualidade. Mas para isso é preciso começar já a trabalhar e fazer desta oportunidade um momento de viragem na produção nacional. Se já fizemos tanto, embora lá fazer o resto!
Mas tenho a certeza de que com a rapidez e versatilidade que soubemos reagir, também iremos responder aos desafios que se forem desenhando. O mundo vai mudar, mas as necessidades de fazer turismo não vão desaparecer. E nós estaremos cá, prontos para receber e para mostrar a nossa gastronomia. Tenho a certeza que sim. Vamos acreditar.
Estamos com fome de nos sentirmos em grupo. Isso significa que somos humanos. Acredito muito que, para além das previsões, os homens e mulheres deste mundo vão surpreender pelas soluções, pela capacidade adaptação, pela inovação. Quero participar nisso e ver a cor para além do negro.
Tudo fica mais fácil quando pensamos melhor o assunto. Quando deixamos de fazer pingue pongue e o reservamos no nosso íntimo. Quando deixamos de ter medo que nos tire o sono e nos habituamos à sua presença. #resistir é também pensar, maturar, deixar assentar para se ver com mais clareza. E o caracol é uma boa companhia. Determinado, faz o seu caminho.
Não sei porquê este desconforto, eu que até tenho uma paisagem tão bonita para onde fugir sempre que os problemas pesam. Mas a verdade é que sinto saudades de tudo e de todos. Acho que até é por isso que, ultimamente, por muito boa que seja a refeição, como e não consigo saborear. Encho o estômago pela fome que surge sem os horários do costume, sento-me à mesa nas horas supostas, mas não consigo saborear.
A vida flui com os silêncios e as gritarias do costume. Tudo gira em torno das questões que estão na moda e, de repente, o ruído é tanto que até nos impede de pensar. Penso nisto a propósito da moda da produção nacional. Ainda que uma boa moda, temo que seja só mesmo isso, uma moda, uma tendência que nunca se transformará em essência. E porquê digo isto?
Mas, por favor, acordem os que acham que ainda vivem no mesmo ritmo de sempre. Truz, truz. O mundo está a mudar, o mundo já mudou e vai exigir de todos um modelo de comportamento, uma visão de mundo, um pensar e um agir muito diferenciado. E se uns conseguem, porque não poderemos conseguir todos?
Perante o enorme e gigantesco abanão que ainda faz tremer o mundo acho que ficámos todos mais sensíveis à emoção. E talvez isso só seja o reflexo de que a humanidade de que somos feitos está a vir ao de cima e é fermento para um mundo melhor. Feliz por isso, feliz pelo alívio que se pressente na clausura a que estivemos submetidos e que nos vai dar a liberdade de pormos o pé fora do nosso terraço. Feliz pelo nosso #resistir.
Quem não quer ser lobo que não lhe vista a pele. Não nos podem fazer acreditar e depois ficarmos à espera. As famílias e as empresas não podem esperar, não têm margem para isso. Precisamos que o discurso e a ação sejam coincidentes.
Tudo se encaminha para um regresso à normalidade. Ainda que lento, o regresso acontece. Uns estarão felizes com a mudança, outros talvez nem tanto que as mudanças custam sempre, mesmo as muito desejadas. A mim custa-me ter perdido o silêncio que permitia ouvir com maior clareza o chilrear barulhento da passarada ao final da tarde.
Ao Sabor de Portugal