Pequenos Tesouros

Quando era miúda, sempre que passava pelas pontes de Maiorca, o coração batia muito e acelerado. Se aquele bater das rodas do carro no empredrado significava que já estava perto do mar da Figueira o que me deixava feliz, tinha medo de o carro cair nas marinhas de arroz.
A receita que se dá, a receita que se recebe. Das que ficavam no sigilo da pobreza às que viajavam na história das famílias e das comunidades, é sempre fascinante descobrir mais. Por isso este “Saber (a) Vinhais” sabe tão bem. As receitas não são só meio, são fim, função, símbolo e significado. Livro escrito a 8 mãos tem o estudo e a dedicação do amigo Virgílio Santos Nogueiro Gomes. Obrigada pela partilha de saber!
O doce encanta não porque é doce, mas porque traz consigo o abraço, a palavra feliz, o mimo. Foi o que aconteceu, hoje, com esta travessa de arroz doce. Veio no momento certo e trouxe o sorriso. É esta a maravilha da doçaria que é muito mais do que sabor adocicado, é significado, símbolo, função e liga pessoas.
Hoje a mesa vestiu-se “à gandaresa” com umas sardinhas na telha. Com o que aprendi com o Paulo Seven Paiva e com as dicas da Dora Catarina Caetano fiz um almoço a preceito. A mostrar a minha costela gandaresa e a fazer surpresa aos meus amigos José Tereso, Pedro Ferraz e todos os que vivem a Gândara com emoção. Bom domingo!
Tivemos o milho logo, logo quando ele chegou do outro lado do Atlântico e criámos hábitos como estas Tortas da Sertã que a minha mãe se lembra de comer acompanhadas de café de panela. Aproveitamento delicioso do resto da massa da broa de milho que, em vez de ir para o forno, acabava na sertã.
Figos secos recheados com amêndoa, açúcar, chocolate, canela e erva-doce. Depois de feitos são embrulhados em papel branco franjado a imitar uma réstea de alhos.
Aproveito o Dia Mundial do Livro para falar dos livros da grande autora Mouette Barboff que estudou o pão português como ninguém. Estes livros são companhia amiga quando quero aprender sobre a essência da alimentação em Portugal. O mundo do pão que nos leva até à intimidade do nosso povo. Um tributo singelo que faço a uma autora que muito admiro.
As espécies selvagens inundam os campos do Mondego e são teimosas perante a domesticação. Nas leiras é onde o mundo da ordem e o milho cresce de forma alinhada. Nas bordas é a liberdade e ali dançam ao vento o fruto que poderia ser pão, a erva que poderia ser cheirinho. Da ordem à desordem, da linha à liberdade, linha ténue que inspirou os antigos e que me inspira.
Sao muros. Não são apenas muros. Às vezes pedaços de pedras fragilmente amontoados que desenham formas e deixam passar o sol, outras pesados blocos de granito que cerram o espaço, outros ainda bocados de xisto encaixados uns nos outros que refletem a luz nas camadas castanhas. Às vezes dividem a terra, outras amparam as oliveiras ou as videiras, outras protegem. Em todos eles plantas, sementes, musgos, recebem abrigo. E eu gosto da cor, do tempo que guardam. São muros.
Em parada, as cegonhas repousam junto das salinas na Figueira da Foz. Uma bela foto, num belo dia de sol no nosso Baixo Mondego.
Ao Sabor de Portugal