Olga Cavaleiro

Há muito que tomo este Presuntinho como um bocadinho do meu mundo. Não que tenha crescido com ele, mas o certo é que quando o conheci nunca mais deixei de o ter presente na minha vida. A gastronomia tem esta felicidade, quando nasce é para todos, não pertence a ninguém e pertence a todos. E o certo é que, sempre que posso, lá vou eu falando do bocado de história, de geografia e de cultura que é esta Pera Passa.
Lado a lado como duas irmãs. Quase gémeas, filhas da mesma receita, mas tão diferentes no feitio, no sabor, na textura. Uma da margem direita do Mondego, outra do lado esquerdo. Confesso que não resisto a ambas. Aliás, não resisto a queijadas.
O que eu aprendo com os meus alunos – zirra, um brinquedo feito com uma casca de nós, um pauzinho de castanheiro e cortiça. O resto é imaginação pura, criatividade de um povo que fazia do simples oportunidade para a perfeição de um momento feliz. Maravilha, obrigada Pedro Correia!
Ao fundo as castanhas, mas é o Pão de Ló que nos prende o olhar. Gosto de olhar este Pão que é de Ló e imaginar o sol da doçaria nacional e a lua que o acompanha. Delírios em vários pontos de açúcar. EHT Lamego, pastelaria.
Um produto diferencia-se de muitas maneiras, até na forma como é apresentado e acondicionado. As queijadas de Pereira, ainda hoje, mantêm a apresentação em sandes (virada uma para a outra) e embrulhadas em cartucho de papel. Lindo!
Há dias difíceis de aulas com provas para mostrar como evoluíram os nossos produtos até se distinguirem como ícones gastronómicos plenos de identidade, diferenciados no sabor e na textura. Como sempre, levo até à sala de aula os produtos portugueses. Esta é também uma forma de os promover e incentivar o seu consumo. Bolo de Ançã com a sua crista recortada na massa e o Folar das 24h do Baixo Mondego.
Às voltas com um fruto que tanta tradição tem na doçaria portuguesa foi com surpresa que encontrei “The Portugal Quince” no dicionário de botânica escrito por Richard Bradley publicado em 1728. Após referir o fruto do marmeleiro mais vulgar (“ordinary quince-tree”) que refere ser de paladar difícil para se comer em cru, aquele autor fala do marmelo da cultivar “De Portugal” deixando alguns elogios na forma como o descreve. Ainda que registe que cozinhado com açúcar seja de paladar mais saboroso, refere que comido em cru “não ofende ninguém”.
Passei o Verão a ouvir falar das maçãs ou pêros (porque, na verdade, são umas maçãs pequenas) Malápio. Tinha tanta curiosidade porque me diziam que tinham um cheiro maravilhoso e, se guardadas pelos parapeitos, iriam perfumar a casa toda. Tenho as aqui comigo e estou feliz por estas Malápios. Cheiram tão bem!
Juro que este figo sabe a cereja, não sei qual a variedade, mas gostava de saber. Corre uma lágrima em tons de rosa pelo olhinho e a sua cor deixou-me curiosa. Engraçado é que comi alguns, uns estavam fermentados, outros ainda verdes e outros estavam no ponto ideal de doçura.
Ao Sabor de Portugal